Fui agora mexer nas tuas cartas.
Quem pudesse voltar a acreditar
Nessas palavras doidas e transidas
De febre no delírio da paixão
Que arrastaram num sonho as nossas vidas
Misturando-as na mesma reacção!
Aqui há um juramento além da morte.
Ali dizes que vens logo à noitinha;
E um cheiro a vinho e a fruta – Que doidice!,
Paira naquele quarto de hotel
Onde fiquei três dias e três noites
Esquecido de tudo à tua espera!
Estávamos em Março; Primavera.
Nesta um abraço ainda cinge e aperta
Meu corpo vibrante,
E ali rasga o papel o teu ciúme
Num beijo sensualíssimo de amante.
Além, mais alto, impões que te apareça
– E a noite era uma noite muito fria!
Tanta carta a falar do nosso amor,
Tanta coisa que morre e nem nos deixa
Sequer um vago som de simpatia?
O que eu chorei quando esta recebi,
Esta que diz: «Não volto a procurar-te.»
E atrás de ti segui por toda a parte,
Até que te encontrei; e ardentemente
Voltámos à loucura que findou.
Como é que a gente pode mudar tanto
Sem sentir pela hora que passou
– Por essa hora linda de prazer,
Uma saudade, um pormenor qualquer
– Ficarmos alheados ou suspensos –
Uma tristeza, uma tremura, um ai
Que nasce e vai morrer lá onde a realidade
Começa e não acaba e nunca expira?...
Não leias estes versos. Tudo isto,
Tudo isto, afinal, é só mentira.
Quem pudesse voltar a acreditar
Nessas palavras doidas e transidas
De febre no delírio da paixão
Que arrastaram num sonho as nossas vidas
Misturando-as na mesma reacção!
Aqui há um juramento além da morte.
Ali dizes que vens logo à noitinha;
E um cheiro a vinho e a fruta – Que doidice!,
Paira naquele quarto de hotel
Onde fiquei três dias e três noites
Esquecido de tudo à tua espera!
Estávamos em Março; Primavera.
Nesta um abraço ainda cinge e aperta
Meu corpo vibrante,
E ali rasga o papel o teu ciúme
Num beijo sensualíssimo de amante.
Além, mais alto, impões que te apareça
– E a noite era uma noite muito fria!
Tanta carta a falar do nosso amor,
Tanta coisa que morre e nem nos deixa
Sequer um vago som de simpatia?
O que eu chorei quando esta recebi,
Esta que diz: «Não volto a procurar-te.»
E atrás de ti segui por toda a parte,
Até que te encontrei; e ardentemente
Voltámos à loucura que findou.
Como é que a gente pode mudar tanto
Sem sentir pela hora que passou
– Por essa hora linda de prazer,
Uma saudade, um pormenor qualquer
– Ficarmos alheados ou suspensos –
Uma tristeza, uma tremura, um ai
Que nasce e vai morrer lá onde a realidade
Começa e não acaba e nunca expira?...
Não leias estes versos. Tudo isto,
Tudo isto, afinal, é só mentira.
in Canções
António Botto
António Botto
1 comentário:
as cartas, as fotos que nos ficam na retina à espera que outros feixes de luz, mais fortes, as façam desaparecer...
Lembranças e tantas outras locuras que se ficam em tantos chãos, em tantas noites cá fora à espera, ou espalhadas pelo areal da praia...
Serão sempre lembranças... e terão sido sempre momentos unicos, lindos e perfeitos...
Não serão mentira... serão passados... felizes...
Sempre... que ficam para sempre..
mas porque a vida continua, porque há smepr eum farol a guiar-nos o caminho de volta ao porto...
Enviar um comentário